A alimentação adequada e saudável deve ser estimulada desde o nascimento. Além de nutrir melhor o corpo para as atividades cotidianas, o bom hábito alimentar é uma das principais formas de prevenir a obesidade, bem como condições crônicas de saúde, como a hipertensão e o diabetes.
As escolas têm um papel essencial nesse processo, porque é nelas que crianças e adolescentes passam pelo menos um terço do dia, em etapas da vida nas quais o desenvolvimento e as mudanças ocorrem rapidamente. E hábitos da infância e da adolescência podem influenciar significativamente a saúde do adulto no futuro.
A chamada Lei do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) estabelece que a alimentação escolar deve ser pautada por princípios de segurança alimentar e nutricional, promovendo o desenvolvimento saudável e o direito humano à alimentação adequada. Por meio desta e de outras políticas, milhões de crianças em escolas públicas no Brasil têm acesso a refeições balanceadas.
Além disso, o ambiente escolar, seja público ou privado, deve oferecer opções de acordo com o Guia Alimentar da População Brasileira, que frequentemente é citado aqui e está completando dez anos. O documento foi criado para ser uma referência em alimentação adequada e saudável, respeitando a cultura e diversidade da população do país.
Só que, para além de oferecer alimentos que sigam essas orientações, também é papel da escola promover a Educação Alimentar e Nutricional (EAN). Ela faz parte das diretrizes da Lei 11.947/2009 e representa uma importante ferramenta para formar cidadãos mais conscientes e críticos, capacitando-os a fazer escolhas alimentares saudáveis e sustentáveis.
Educação alimentar como parte da formação
No mês de agosto, o Observatório da Alimentação Escolar (ÓAÊ), rede formada por 23 organizações da sociedade civil, apresentou uma nota técnica ao governo federal recomendando a inclusão de material de formação sobre Educação Alimentar e Nutricional (EAN) no Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD).
A nota técnica reforça a necessidade de um melhor planejamento das ações da EAN e que elas sejam “estruturadas em uma trilha pedagógica de aprendizagem durante todas as etapas da Educação Básica para se chegar à real formação do cidadão”. O texto da ÓAÊ recomenda ainda que a saúde seja um tema constantemente debatido na comunidade escolar e que a Educação Alimentar e Nutricional faça parte do currículo das escolas de maneira transversal, por meio de projetos político-pedagógicos com ênfase em alimentação, nutrição e práticas saudáveis de vida no processo de ensino e aprendizagem.
Outras medidas propostas incluem a realização de atividades com os estudantes, como oficinas culinárias e hortas, além de ações para conscientizar os familiares sobre os lanches levados para a escola.
Evidências que reforçam a importância da educação alimentar
Para a construção da nota técnica, a ÓAÊ utilizou várias referências, incluindo um estudo que foi fruto de uma parceria entre o Instituto de Nutrição da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), a Coordenação-Geral da Alimentação e Nutrição (CGAN) do Ministério da Saúde e a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS).
Nele, foi elaborada uma matriz de temáticas de alimentação e nutrição, com propostas de atividades e materiais educativos a serem implementados na grade curricular, de acordo com o desenvolvimento da criança. O material analisou livros e práticas de educação alimentar e observou que a alimentação e a nutrição estão sendo ensinadas sem conexão com outros componentes curriculares, como História e Geografia.
O estudo propõe que uma abordagem eficaz da EAN deve ser lúdica e interativa, proporcionando experiências que envolvam os estudantes de forma integrada com outras áreas do conhecimento. Uma das dinâmicas, por exemplo, estimula o diálogo com os outros componentes curriculares por meio do registro textual da alimentação dos estudantes (Língua Portuguesa), da observação das mudanças nos hábitos alimentares ao longo do tempo (História) e pela discussão sobre hábitos alimentares saudáveis (Ciências). Essas atividades incentivam a reflexão sobre as escolhas nas refeições e o impacto na saúde, no meio ambiente e na sociedade.
O resultado dessas ações já pôde ser visto em uma escola de Caxias do Sul, que adotou práticas de EAN de forma experimental e realizou intervenções abordando assuntos sobre alimentação saudável durante seis semanas. Após esse período, houve significativa redução no consumo de alimentos ultraprocessados em praticamente todas as refeições realizadas no ambiente escolar. Isso mostra como a escola pode ser um agente transformador, não só para os alunos, mas também para as famílias e comunidades. A experiência de Caxias do Sul foi publicada pela Revista de Nutrição e Vigilância em Saúde.
Outra pesquisa, financiada pelos Institutos Nacionais de Saúde (NIH, na sigla em inglês), agência ligada ao Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos, revelou também que intervenções educativas, quando integradas a práticas escolares, têm um impacto positivo na saúde e nos hábitos alimentares dos alunos.
Os dados apontam para uma redução no consumo de alimentos ultraprocessados e aumento no consumo de frutas e vegetais em escolas onde houve ações por meio de hortas, aulas de culinária e educação nutricional. Além disso, houve melhoria nos parâmetros metabólicos dessas crianças, como a redução dos níveis de colesterol LDL e hemoglobina glicada (que é um importante indicador sobre o nível da glicose no sangue ao longo de três meses).
Estudos como esses mostram a importância de, cada vez mais, debatermos alimentação adequada e saudável, além de formas de incentivá-la em diversos espaços. A alimentação não é somente responsabilidade de cada indivíduo, de cada família. É também uma questão social, econômica e de saúde pública.
Comments