Ambiente escolar aparece como um promotor do consumo desses alimentos
Foto: Allen Ferraz Lins
Os brasileiros têm consumido menos alimentos regionais nos últimos 20 anos, segundo um estudo desenvolvido por pesquisadores do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (Nupens) da Universidade de São Paulo (USP). A pesquisa identificou diferenças entre regiões do Brasil e destacou o ambiente escolar como promotor do consumo desses alimentos, um indicador da importância de políticas públicas voltadas para a alimentação saudável nas escolas.
Apenas 3,12% do total de calorias consumidas pelos brasileiros dizem respeito a alimentos regionais, um percentual considerado baixo, concluíram os pesquisadores Marcos Anderson da Silva, Maria Laura Louzada e Renata Levy. Os autores analisaram os dados levantados nas últimas edições da Pesquisa de Orçamento Familiar (POF), realizada pelo IBGE em 2002-2003, 2008-2009 e 2017-2018. Na primeira edição da POF, este percentual era de 3,69%
Alimentos regionais são aqueles cultivados, colhidos e comercializados em uma mesma região e, portanto, considerados opções de fácil acesso, baixo custo e alto valor nutricional. Estimular o consumo desses alimentos está de acordo com o que determina o Guia Alimentar Para a População Brasileira, seja na preferência aos alimentos in natura e minimamente processados, seja pelo aspecto cultural e sustentável da comida regional.
Cerca de 82% dos alimentos consumidos em escolas da região Sul são regionais e 86,5% dos cardápios nas escolas contemplam ao menos uma preparação regional por semana.
“Nossos resultados reforçam a importância de algumas políticas como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). São iniciativas que tornam esses alimentos mais acessíveis para a população, e ainda contribuem com a agricultura familiar”, afirma Silva.
A região Nordeste foi a que registrou o maior consumo de alimentos regionais, totalizando 7,26% das calorias consumidas em 2017-2018. Isso se deu principalmente pelo consumo de feijão, que representou 5,62%. Apesar de ser alto na comparação nacional, houve queda no consumo: o percentual anterior era de 8,56%. O Nordeste também teve aumento, ao longo das últimas duas décadas, no consumo de farinhas regionais, denotando a resistência dos hábitos e da cultura alimentar da região.
Em vinte anos, a ingestão de batatas no Brasil caiu 45%, mas a produção teve aumento de 121% nos últimos 45 anos, refletindo a demanda industrial por alimentos ultraprocessados como chips e batata palha. “Um dos principais causadores de queda é, ironicamente, o atual modelo agrícola brasileiro”, diz Silva. “Nossa agricultura tem se baseado na grande demanda por commodities, como soja, milho, trigo e açúcar, quase sempre direcionados à produção de ultraprocessados.”
O estudo completo está disponível neste link
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