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Desertos e pântanos alimentares: você está vivendo em algum deles?


Imagine um lugar com pouca ou nenhuma opção de estabelecimentos que vendem comida variada in natura ou minimamente processada, como as feiras livres, hortifrutis ou supermercados. E mais: imagine que esse mesmo lugar tem, como opções próximas para venda de alimentos, lanchonetes de fast food, estabelecimentos que vendem salgadinhos de pacotes, refrigerantes e sucos de caixinha, ou até mesmo aquela barraquinha na esquina cheia de guloseimas. Você acabou de pensar em um exemplo de deserto alimentar e de um pântano alimentar.


Esses conceitos, comuns entre os profissionais da área de nutrição, são pouco conhecidos pela maior parte da população, mas muita gente vive, trabalha ou estuda em locais que são considerados desertos e pântanos alimentares. Os desertos são regiões com pouca oferta e opção de alimentos saudáveis. Já os pântanos, são áreas geográficas onde há predominância de estabelecimentos comerciais que oferecem alimentos não saudáveis, principalmente os ultraprocessados, ricos em sódio, açúcar, gordura e aditivos industriais, como corantes e aromatizantes.


Muitos dos pântanos e desertos alimentares estão nas áreas urbanas e o crescimento desordenado é um dos principais fatores que dificulta uma alimentação adequada da população, principalmente nas periferias das grandes cidades brasileiras. Por isso, falar desses conceitos é falar também de políticas públicas, porque é uma responsabilidade dos gestores públicos olhar para a segurança alimentar da população.


A realidade dos desertos e pântanos alimentares no Brasil

Em novembro, o Governo Federal, por meio dos ministérios do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), das Cidades (MCid) e do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA), lançou o Mapeamento dos Desertos e Pântanos Alimentares, um estudo que mostra a distribuição dos estabelecimentos que vendem alimentos saudáveis e não saudáveis no país. Ele aponta ainda os locais que são considerados desertos e pântanos alimentares em 91 municípios que têm mais de 300 mil habitantes.


O mapeamento está na também recém-lançada plataforma “Alimenta Cidades” e as iniciativas fazem parte da Estratégia Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional nas Cidades – Alimenta Cidades. O objetivo é combater a fome e promover a segurança alimentar e nutricional da população.


O estudo do Governo Federal revelou que cerca de 25 milhões de pessoas vivem em desertos alimentares e 14,7 milhões em pântanos alimentares. Como falamos acima, essas áreas estão, na maior parte dos casos, nas periferias e afetam populações de baixa renda, principalmente as mulheres negras e com o maior número de filhos.


Para definir as áreas de pântanos alimentares, os ministérios responsáveis pelo mapeamento consideraram a existência de 15 estabelecimentos “não saudáveis” acessíveis em até 15 minutos de caminhada, para cada 1 mil habitantes. Essas áreas são caracterizadas também pelo fácil acesso a produtos de baixo custo, mas com altos índices de açúcar, gordura e sódio, que contribuem para o aumento de fatores de risco para obesidade, e doenças crônicas como a diabetes e a hipertensão. E vale lembrar que, além da fome e da desnutrição, o excesso de peso é considerado um fator de insegurança alimentar.


Nas áreas com alta concentração de alimentos não saudáveis, a oferta de opções saudáveis é limitada ou inexistente, o que dificulta ainda mais o acesso a uma alimentação equilibrada. Como resultado, o consumo desses alimentos de baixo valor nutricional se torna uma escolha inevitável para muitas famílias, especialmente as mais vulneráveis economicamente.


Em números absolutos, a região Sudeste do Brasil concentra a maior parte dessa população. São 8,8 milhões de pessoas vivendo em pântanos alimentares, o que representa cerca de 60% do total de habitantes. Já a região Sul, em termos relativos, tem a maior proporção de população vivendo em pântanos, com 28,2%. Também proporcionalmente, a região Norte é a que apresenta a menor taxa de pessoas vivendo nessas condições, com menos de 8%.


É importante destacar que o conceito de pântano alimentar está intimamente relacionado ao conceito de deserto alimentar. No levantamento do Governo Federal, os desertos alimentares foram caracterizados por áreas onde de 0 a 5 estabelecimentos ofereciam alimentos saudáveis e frescos- como frutas, verduras e hortaliças-, em até 15 minutos de caminhada, para cada 1 mil habitantes. Atualmente, mais de 30% da população das grandes cidades brasileiras vivem nesses desertos. Essas duas situações juntas formam um cenário de insegurança alimentar preocupante em várias regiões do país.


O Mapeamento dos Desertos e Pântanos Alimentares oferece uma ferramenta importante para que os gestores públicos identifiquem as áreas críticas e direcionem políticas que promovam o acesso a alimentos saudáveis. Aliado à Política Nacional de Abastecimento Alimentar (PNAAB), possibilita a criação de ações para reverter o crescimento dos pântanos e desertos alimentares. A estratégia se apoia em medidas socioeconômicas, como o fortalecimento da agricultura local e do varejo de pequeno porte, a promoção de feiras de alimentos frescos e a implementação de programas que incentivem o consumo de alimentos nutritivos nas áreas com maior vulnerabilidade, priorizando a biodiversidade e os alimentos básicos, a preços acessíveis. A ideia de política pública existe. Agora, é fazer valer, na prática, o direito fundamental do ser humano à alimentação adequada.

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