Neste mês de outubro, quando temos o Dia Nacional de Prevenção da Obesidade (11/10), é importante lembrarmos que, além da alimentação adequada e saudável, praticar atividades físicas regularmente é fundamental para prevenir o excesso de peso, que pode se apresentar na forma de sobrepeso ou obesidade.
Uma rápida pesquisa sobre esse assunto na internet nos faz entender que a obesidade é considerada um sério problema de saúde pública. Ministério da Saúde, Sociedade Brasileira de Pediatria, Organização Mundial da Saúde…não faltam referências e alertas.
Por isso, desde 2019, o Instituto Desiderata vem trabalhando com a temática da obesidade infantojuvenil e entende que esse assunto precisa fazer parte das políticas públicas do país. O Panorama da Obesidade em Crianças e Adolescentes, plataforma desenvolvida pelo Desiderata com base em dados do Sistema Nacional de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN), aponta que 3 em cada dez pessoas com idades de 0 a 19 anos estão com excesso de peso.
Estamos sempre falando aqui sobre a importância de uma alimentação adequada e saudável, mas não podemos esquecer que as atividades físicas também contribuem para a saúde em geral e para a prevenção da obesidade.
Um estudo feito por pesquisadores espanhóis, com crianças de 10 e 11 anos, demonstrou que a atividade física, quando aliada à educação nutricional, pode gerar resultados significativos na redução da obesidade. Na pesquisa, as crianças foram divididas em dois grupos, que foram acompanhados por nove meses. Um dos grupos contou com práticas de atividades físicas e aconselhamento nutricional, enquanto o outro contou apenas com aulas teóricas e práticas sobre nutrição. Ao final do período estipulado, as crianças do primeiro grupo apresentaram redução significativa nos níveis de gordura corporal, enquanto as do segundo grupo, em alguns casos, chegaram a apresentar até mesmo um aumento desses níveis.
Outro estudo semelhante, feito pelo mesmo grupo de pesquisadores, mostrou que a atividade física ajuda a reduzir a pressão arterial em crianças com sobrepeso ou obesidade, sendo um fator importante também na promoção da saúde cardiovascular, prevenindo a hipertensão precoce e outros problemas relacionados ao excesso de peso.
Um guia para as atividades físicas
Além do Guia Alimentar para a População Brasileira, que sempre lembramos em nossas publicações, existe o Guia de Atividade Física para a População Brasileira, elaborado e disponibilizado gratuitamente pelo Ministério da Saúde. Esse material destaca que a atividade física deve fazer parte da rotina desde a infância e divide as orientações em quatro grupos etários: até 5 anos, de 6 a 17 anos, adultos e idosos. Também traz informações sobre atividade física escolar, durante a gestação e no pós-parto, e para pessoas com deficiência.
O guia também recomenda que haja limite no tempo de uso de dispositivos eletrônicos, como celular, computador, tablet e televisão, para reduzir o comportamento sedentário. É essencial também estimular atividades culturais e educativas que promovam o movimento, como pintura, desenho e jogos interativos.
De acordo com o documento, crianças e adolescentes entre 6 e 17 anos, por exemplo, devem realizar ao menos 60 minutos diários de atividades físicas de intensidade moderada a vigorosa. Essas práticas são fundamentais não só para o controle do peso e melhora da saúde cardiovascular, como já foi dito, mas fortalece ossos, músculos e promove o bem-estar psicológico.
É sempre importante lembrar que, para além da questão do sobrepeso e da obesidade, o sedentarismo é um facilitador para o desenvolvimento de doenças metabólicas e crônicas, como hipertensão e diabetes. Além disso, a prática regular de exercícios auxilia no equilíbrio hormonal, na redução de fatores de risco, como o acúmulo de gordura abdominal, previne doenças cardiovasculares e a resistência à insulina.
Outras políticas importantes
A Estratégia Nacional para Prevenção e Atenção à Obesidade Infantil (PROTEJA), instituída pelo Ministério da Saúde em 2021, é uma política intersetorial, ou seja, que prevê que várias frentes sejam organizadas pelos gestores municipais com o objetivo de prevenir e cuidar da obesidade infantil.
A promoção de uma alimentação saudável, a formação de profissionais envolvidos nos cuidados com crianças e o incentivo às atividades físicas estão entre as ações citadas na estratégia. Para que isso aconteça, são sugeridos investimentos em infraestrutura nas escolas e a criação e manutenção de espaços públicos, como parques, áreas verdes e playgrounds. A ampliação de ciclovias e criação de “ruas de lazer” também estão entre os tópicos importantes, pois incentivam o transporte ativo e promovem um estilo de vida mais saudável.
Além do PROTEJA, é importante citar também o Instrutivo para o Cuidado da Criança e do Adolescente com Sobrepeso e Obesidade, desenvolvido pelo Ministério da Saúde com a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e publicado em 2022. O documento, voltado para profissionais da saúde que atuam na Atenção Primária, reforça a importância do acompanhamento contínuo e adequado para as crianças que já apresentam excesso de peso.
De acordo com o instrutivo, a obesidade pode ser causada por vários fatores, como os genéticos, comportamentais e ambientais e, por isso, o atendimento e o cuidado devem considerar o contexto social, familiar e escolar da criança ou adolescente. As recomendações dos profissionais da saúde também vão precisar focar em múltiplos comportamentos ligados à alimentação, ao sedentarismo, às atividades físicas, ao sono e à saúde mental.
Um cuidado multidisciplinar
Como sempre defendemos no Instituto Desiderata, a preocupação com o excesso de peso em crianças e adolescentes não é uma responsabilidade apenas das famílias, é uma questão social e deve ser abordada como uma política pública.
Por isso, uma das ações do Desiderata foi o desenvolvimento de uma linha de cuidado para a obesidade infantojuvenil, em parceria com a Secretaria de Saúde de Niterói. Lançada em 2023, ela é multidisciplinar, mostrando que a prevenção e o cuidado com a obesidade infantojuvenil precisa envolver profissionais de áreas como nutrição, psicologia e educação física.
A linha de cuidado funciona como um protocolo de atendimento na Atenção Primária à Saúde (APS), e tem o objetivo de orientar os profissionais de saúde no atendimento a crianças e adolescentes que apresentem obesidade ou fatores de risco para desenvolvê-la.
Ainda em 2023, a iniciativa foi reconhecida pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) como um dos projetos inovadores na gestão da saúde pública.
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