Estabelecimentos que comercializam alimentos no entorno aumentam exposição de estudantes a escolhas não saudáveis
Sete em cada dez escolas na cidade de São Paulo estão localizadas em regiões caracterizadas como pântanos alimentares, de acordo com um novo estudo feito por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e publicado na revista Cadernos de Saúde Pública, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Pântano alimentar é o termo utilizado para definir locais em que predominam a venda e a exposição de alimentos e bebidas ultraprocessados– refrigerantes e salgadinhos de pacote são um exemplo-, ao invés de opções mais saudáveis, como alimentos in natura ou minimamente processados. O consumo de ultraprocessados está associado ao desenvolvimento de obesidade e de diversas doenças crônicas, como a diabetes e a hipertensão, inclusive entre crianças e adolescentes.
O estudo analisou 3.121 escolas públicas e privadas, considerando uma distância de até 500 metros nos entornos dessas escolas. Informações como região, número de estudantes e indicadores socioeconômicos dos bairros onde se localizam também fizeram parte do levantamento. Os estabelecimentos avaliados foram lanchonetes, bares, padarias, mercadinhos, lojas de doces, supermercados, entre outros pontos que comercializam alimentos e bebidas.
De maneira geral, lanchonetes e vendedores ambulantes são os mais presentes nos entornos das escolas. Lojas de doces estão concentradas nas proximidades de escolas municipais e particulares; os minimercados apareceram principalmente no entorno das escolas municipais e lanchonetes estão mais perto das particulares. Estabelecimentos como supermercados, hipermercados e hortifrutis estão dispersos nos arredores das escolas públicas.
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A pesquisa se soma a outros estudos que associam um ambiente alimentar de baixa qualidade no entorno das escolas a uma exposição maior dos estudantes ao consumo excessivo de alimentos não saudáveis, como os ultraprocessados.
Em Recife, as características da oferta de alimentos nas redondezas de escolas públicas e privadas e a relação com indicadores socioeconômicos também foram objeto de um estudo recentemente publicado na Revista Ciência e Saúde Coletiva. Como marcador socioeconômico, foi utilizado o IVS (Índice de Vulnerabilidade à Saúde), que mensura as condições de vida e saúde da população de acordo com o ambiente.
Foram observados dois padrões de agrupamento de estabelecimentos de venda de alimentos em um raio de até 400m de cerca de mil escolas. Há uma concentração maior de comércios que vendem alimentos prontos ou semiprontos para consumo no entorno de escolas localizadas em áreas de maior vulnerabilidade (IVS mais alto). Por outro lado, grandes redes varejistas aparecem em maior número nas regiões de menor vulnerabilidade e estão associadas a uma concentração maior de escolas privadas.
Realizado por nutricionistas das universidades federais de Minas Gerais (UFMG), Ouro Preto (UFOP) e Pernambuco (UFPE), o estudo alerta para a necessidade de regulamentar também o ambiente no entorno das escolas, além da comercialização de alimentos e bebidas no interior dos estabelecimentos de ensino.
No início do ano, pesquisas realizadas no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte mostraram a existência de pântanos alimentares também nos arredores das escolas dessas cidades. Relembre aqui.
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