Uma pesquisa realizada em 2018 pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope) mostrou que cerca de 30 milhões de brasileiros declararam ser vegetarianos, o que corresponde a 14% da população. Em relação aos veganos, ou seja, pessoas que não consomem nenhum tipo de produto de origem animal, ainda não há um estudo que traga uma estimativa de adeptos. No entanto, as dietas vegetarianas e veganas têm se tornando mais populares no Brasil, e o tema também vem sendo mais debatido e pesquisado.
Apesar de ser perfeitamente possível ter uma alimentação equilibrada mesmo reduzindo ou não consumindo alimentos de origem animal, é preciso ter atenção ao aumento dos ultraprocessados. A indústria utiliza a roupagem “vegetariano, vegano ou à base de planta (os chamados plant-based)” para vender esses produtos como alternativas 100% saudáveis.
Estudos recentes conduzidos pelo Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da USP (NUPENS-USP), pelo Imperial College de Londres e pela Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (Iarc) mostraram que os ultraprocessados de origem vegetal podem aumentar significativamente o risco de doenças cardiovasculares, diabetes e depressão. A crença de que "se é à base de plantas, é saudável" pode ser enganosa, especialmente quando aplicada a alimentos com altos níveis de processamento, porque, ainda assim, são produtos que apresentam elevado teor de sal, açúcares ou gorduras, além de aditivos químicos, como os corantes e aromatizantes.
Esse conceito errado, de que tudo com a chancela vegetal é melhor para a saúde, se propagou de forma bastante rápida e muitas famílias acabam oferecendo esses produtos às crianças e adolescentes, na expectativa de estarem promovendo uma alimentação saudável e de qualidade.
E vale alertar que o consumo de ultraprocessados é alto desde a primeira infância. De acordo com o Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (ENANI), realizado pelo Ministério da Saúde, eles já correspondem a 25% da alimentação total de crianças menores de 5 anos.
Vegetal não é sinônimo de ideal
Com a correria do dia a dia, conforme a situação econômica e a disponibilidade de alimentos em determinados lugares, é comum que muitas pessoas recorram aos ultraprocessados como base da alimentação, ou para preparar refeições de forma mais rápida, sem saber dos malefícios que o consumo desses alimentos pode proporcionar à saúde. Muitos adeptos da alimentação vegana acabam caindo na mesma armadilha.
Pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP) avaliaram os hábitos alimentares de mais de 700 brasileiro veganos. A maior parte deles consome a quantidade de proteínas e aminoácidos essenciais recomendada, apesar de não consumirem a proteína de origem animal, e baseiam as refeições em alimentos in natura ou minimamente processados. Mas um ponto chamou a atenção: aqueles que ingerem menos produtos industrializados, estavam mais propensos a ingerir proteína abaixo do necessário.
É aí que, erradamente, entram no cardápio itens como salsichas, hambúrgueres e queijos chamados de plant-based. De fato, não apresentam componentes de origem animal, mas, ainda assim, são ultraprocessados, com uma composição que apresenta sal, açúcares e gorduras em excesso, além dos aditivos químicos.
Por isso, é importante que veganos e vegetarianos sigam a recomendação do Guia Alimentar para a População Brasileira, tendo como base das refeições os alimentos in natura e minimamente processados para suprir o consumo adequado de proteínas e aminoácidos essenciais. Os ultraprocessados devem ser evitados, mesmo aqueles que se apresentam como opções que são mais saudáveis e preocupadas com o meio ambiente e os animais.
Vegetarianos e veganos têm à disposição uma vasta gama de alimentos frescos e minimamente processados que oferecem todos os nutrientes necessários para uma dieta equilibrada. Frutas, legumes, verduras, grãos integrais, nozes e sementes são exemplos de alimentos que contêm compostos bioativos com propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias, essenciais para a saúde.
Sempre que falamos de alimentação, também é fundamental pensarmos na adoção de políticas que facilitem o acesso a alimentos mais naturais e saudáveis para toda a população e que sejam feitos esforços para uma melhor educação nutricional, com o suporte das escolas. Hábitos alimentares adequados e saudáveis, com ou sem proteína animal, começam a ser construídos desde cedo.
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